Eu deveria proteger você de mim
Nosso maior acerto é escolher errar juntos.
Ainda que já seja hora de partir. Ainda que este espaço já tenha sido reivindicado por outro. Mesmo depois que um de nós declare o fim. Nosso vínculo não pode ser desfeito facilmente. Você está vivendo a sua vida agora. Um outro caminho, um outro alguém. E eu deveria ser apenas isso: um amigo. Um lugar seguro, leve. Mas fracassei.
Fracassei quando deixei meu sentimento por você escorrer pelas minhas palavras. Quando cedi ao desejo de reviver o que nunca foi vivido de verdade.
Fracassei quando percebi que, mesmo tentando ser decente, escolhi te manter perto, não como deveria, mas como queria.
Nós dois sabemos o que estamos fazendo. Sabemos o nome disso. Sabemos que não é certo. E, ainda assim, Permanecemos aqui.
Com uma calma que engana, com palavras cuidadosas demais, com aquela chama que a gente nunca apagou só escondeu sob a rotina e os outros compromissos. Mas ela está lá. Queimando. Sempre esteve.
Você não sente isso com mais ninguém. E eu também não. E talvez seja por isso que não conseguimos nos desvencilhar um do outro. É errado. Eu sei. Você sabe.
E ainda assim... permaneceremos.
Eu deveria deixar você ir. Você entende o que estou querendo dizer. Deveria respeitar seu espaço, sua história, seu novo antigo amor. Ser alguém decente. Ser alguém que você olha com orgulho. Mas não sou um homem bom.
Se ser bom é saber recuar quando se gosta demais. Se é não responder aos olhos que imploram por um último toque. Ou se é ter coragem de dizer não ao que nos mantém vivos. Porque estar com você, mesmo assim, me faz respirar mais fundo.
E me enche de culpa.
Sou aquele que falhou com você inúmeras vezes. Que deixou você acreditar que estava tudo certo quando eu sequer sabia o que estava fazendo. Sou aquele que te atraiu de volta para o erro, mesmo quando você queria fazer a coisa certa.
E se hoje você precisar me demonizar, faça.
Você tem razão.
Eu deveria proteger você de mim. Ser o ombro que consola, não a brecha que te arrasta. Mas quantas vezes eu prometi isso? E quantas vezes também falhei? Se você precisar me odiar por isso, tudo bem. Me coloque como o erro. Me desenhe como o homem que não soube respeitar a hora de ir embora. Talvez seja mesmo isso.
Mas ainda assim… Sei que, quando ele não está, você ainda volta. Com sede da minha voz. E o coração latejando por algo que você não consegue dizer “não”.
Amar você seria mais um erro. Mas, entre nós, sempre houve beleza nos erros.
Nós sabemos fazer o nosso erro soar como poesia. Nós sabemos fazer um desvio de caráter parecer lírico. Talvez seja hora de aprendermos a fazer algo comum também.
Se eu fosse um homem bom, eu deixaria você em paz. Mas sou aquele que permite que os meus demônios dancem junto aos teus. E se culpa não me abandona, imagino que a ti também não.
Talvez eu, goste de ser um problema pra você no fim.